14
Set
Construção do perfil do solo: saiba quais práticas favorecem a fertilidade e como contornar os principais desafios relacionados
Conhecer e construir o perfil do solo é essencial para o sucesso das lavouras. Esse é um dos grandes desafios para os produtores brasileiros.
Quando bem realizada, a construção pode ser uma grande aliada do aumento da produtividade das culturas.
Quem investe na construção do perfil do solo compartilha bons resultados.
O que é perfil do solo
O perfil do solo é formado por uma sequência de camadas horizontais, chamadas horizontes.
Esses horizontes iniciam-se na camada superficial do solo até chegar à camada de rocha. Veja as principais características dos horizontes do solo:
Algumas características diferenciam esses horizontes, como:
- cor;
- textura;
- composição;
- estrutura;
- atividade biológica;
- tipos de agregados.
O conjunto desses horizontes constitui o perfil do solo.
Objetivos da construção do perfil de solo
Os solos brasileiros são geralmente ácidos e de baixa fertilidade. Eles necessitam de manejo, correção e fornecimento adequado de nutrientes em seu perfil.
O equilíbrio adequado dos atributos químicos, físicos e biológicos do solo servem para que as plantas utilizem eficientemente os recursos disponíveis (água, luz e nutrientes). Dessa forma, elas expressam seu máximo potencial produtivo.
Neste sentido, é de grande importância o manejo correto do sistema como um todo. É necessário empregar práticas conservacionistas, como:
- sistema plantio direto;
- rotação de culturas;
- plantas de cobertura;
- consórcio milho-braquiária, entre outras.
Qualquer uma dessas práticas serve para quem busca melhorar a fertilidade do solo em suas áreas de cultivo.
Perfil químico do solo
As correções químicas melhoram as condições que restringem o desenvolvimento das culturas.
A viabilização do uso do solo por meio da incorporação de calcário e adubos minerais é conhecida como a etapa da “construção da fertilidade”.
Essa etapa serve para manter o equilíbrio químico do solo, ou seja:
- manter o pH do solo na faixa ideal para a cultura de interesse;
- eliminar o alumínio tóxico do solo;
- aumentar a disponibilidade de nutrientes;
- fornecer nitrogênio, fósforo, cálcio, potássio, magnésio e outros nutrientes.
Perfil físico do solo
Outro ponto importante para a construção do perfil do solo está na melhoria das suas propriedades físicas.
A adoção de práticas conservacionistas pode auxiliar nessa melhoria física. Elas proporcionam condições como:
- maior aeração e menor compactação do solo;
- maior crescimento radicular das plantas;
- maior retenção e infiltração de água no solo;
- menor escorrimento superficial de água;
- menor lixiviação de nutrientes.
Perfil biológico do solo
A construção do perfil do solo também envolve a conservação e melhoria das suas características biológicas.
Também através das práticas conservacionistas, é possível aumentar o aporte de matéria orgânica no solo.
A presença da matéria orgânica melhora a qualidade do solo. Isso porque proporciona benefícios como:
- maior agregação do solo;
- maior porosidade do solo;
- favorecimento da penetração das raízes, ou seja, menor resistência do solo;
- maior retenção e infiltração de água;
- maior absorção de nutrientes;
- liberação de exsudados;
- aumento da atividade e diversidade biológica do solo.
Como a construção do perfil de solo impacta a produção agrícola
Os solos de fertilidade construída diferenciam-se dos demais pelo seu manejo. Neles, são realizadas aplicações sucessivas de corretivos e fertilizantes.
Essas aplicações proporcionam efeitos residuais cumulativos. Esses efeitos aumentam os teores de macro e micronutrientes para níveis altos ou muitos altos.
Aplicações sucessivas de corretivos e fertilizantes proporcionam efeitos residuais cumulativos que aumentam os teores de macro e micronutrientes para níveis altos ou muito altos
(Fonte: adaptada de Gianello e Wietholter, 2004)
Veja algumas características de solos de fertilidade construída:
- altas produtividades das culturas;
- altos teores de matéria orgânica do solo;
- solo descompactado;
- teores adequados de nutrientes;
- maior retenção e infiltração de água.
O solo de fertilidade construída equivale a uma poupança que precisa ser administrada, com o recebimento e retirada de aplicações.
Tudo isso deve ser feito na forma e momento mais adequado ao sistema produtivo.
Os solos funcionam como “contas bancárias”, que guardam a capacidade de suprimento de nutrientes e água para as plantas
(Fonte: Resende, 2017)
Áreas com fertilidade construída, em solos de textura média a argilosa e sob sistema de plantio direto, podem manter sua estabilidade produtiva por um tempo.
Isso é possível com aplicação de quantidades menores de fertilizantes, em comparação com a quantidade utilizada habitualmente.
Desafios para a construção de perfil do solo
Ao utilizar as doses fixas de fertilizantes sem examinar a análise do solo e as estimativas de exportação, você pode aumentar o risco de promover desbalanço nutricional do solo.
Isso faz com que solos de fertilidade construída fiquem propensos a desequilíbrios nutricionais, devido às aplicações super ou subestimadas.
Realizar um manejo nutricional insatisfatório das lavouras pode ocasionar prejuízos futuros ao sistema de produção.
A análise química do solo é o primeiro passo para aprimorar a gestão de solos de fertilidade construída. Ela ajuda na determinação da quantidade de cada insumo a ser aplicado.
Esses solos não estão livres da ocorrência de desequilíbrios nutricionais. A manutenção dos nutrientes é um dos principais desafios de manejo, principalmente em sistemas intensivos de produção.
Cada cultura possui padrões peculiares de extração e exportação de nutrientes durante o ciclo.
A falta de equilíbrio entre adubação e exportação de nutrientes no sistema de produção pode ocasionar o esgotamento das reservas do solo.
Como consequência, a condição de fertilidade construída é prejudicada.
Estimativas de exportação de nitrogênio (N), fósforo (P2O5) e potássio (K2O), em lavouras de milho safrinha
(Fonte: Simão, 2016)
O acompanhamento das flutuações de nutrientes no solo é necessário. Há um confronto de entradas via adubação, saídas pela exportação e os teores disponíveis na análise do solo.
É importante identificar esses pontos para realizar a reposição, recolocando ou utilizando os créditos de nutrientes ao longo do tempo.
Dificuldades
Você pode encontrar algumas dificuldades na construção do perfil do solo, como:
- alto investimento para a melhoria do perfil do solo;
- o retorno econômico não é imediato;
- o tempo para a construção de um perfil do solo de qualidade pode ser longo;
- demanda maior conhecimento dos agrônomos e produtores;
- necessidade de equipamentos modernos e de alta qualidade;
- presença e auxílio de profissionais capacitados.
Práticas que favorecem a construção do perfil do solo
A análise química do solo é crucial para aprimorar a gestão de solos de fertilidade construída. Ela determina a quantidade de cada insumo a ser aplicado.
Normalmente, solos de fertilidade construída estão associados ao manejo adequado.
Sistema plantio direto, rotação de culturas e uso de plantas de cobertura são apenas alguns exemplos.
Solos manejados sob sistema plantio direto podem manter ou aumentar os teores originais de matéria orgânica. Isso depende da região e do tempo de adoção do sistema.
Normalmente, os acréscimos de matéria orgânica são pequenos. Porém, são de grande importância para a capacidade produtiva do solo.
Teores de argila em áreas agrícolas da região Oeste da Bahia e respectivas perdas de matéria orgânica do solo e da capacidade de troca de cátions, após cinco anos de preparo do solo com aração/gradagem e monocultivo de soja
(Fonte: adaptado de Silva et al., 1994)
Como construir a fertilidade do solo?
A construção da fertilidade do solo envolve diversas práticas, como:
- análises frequentes do solo;
- rotação de culturas;
- sistema plantio direto;
- mínimo revolvimento do solo;
- plantas de cobertura;
- uso racional de defensivos e fertilizantes orgânicos, entre outras.